Em julho de
2021, quando o volume 5 de “Meu Casamento Feliz” estava para ser lançado, o
jornal Asahi, um dos mais importantes do Japão, fez uma entrevista com a autora
das “light novels”, Agitogi Akumi. Eu a estava traduzindo quando tropecei na
entrevista do Takahashi Makoto, então deixei aquela de lado para fazer esta. Como
as duas não são muito grandes e nenhum dos sites são pesados, consegui terminar
cada uma em um dia. Para quem quiser ler em japonês, o original está aqui. As imagens são todas de lá. Espero que gostem.
Entrevista com Agitogi
Akumi, de “Meu Casamento Feliz” – Esta história de Cinderela ao estilo japonês,
que ultrapassou os 3 milhões de volumes em circulação, deixa os corações das
leitoras palpitando!
A obra literária “Meu Casamento
Feliz” (KADOKAWA) cujos personagens são populares é uma história de Cinderela
ao estilo japonês, tendo por palco os períodos Meiji e Taishō, em que Miyo, uma
jovem criada sob os maltratos de sua madrasta e sua meia-irmã, vai em casamento
para a casa de Kiyoka, um militar que possui forças sobrenaturais. A história
ultrapassou 3 milhões de exemplares em circulação (N.T.: em setembro de 2023, o
número estava entre 8 e 9 milhões, incluindo as vendas do mangá e digitais) e
já foi transformado em mangá também (N.T.: na época, o animê ainda não havia
sido anunciado). Antes do lançamento do quinto volume, o mais recente, do
romance em 15 de julho, perguntamos à autora, Agitogi Akumi, sobre o processo
de criação das obras e seu histórico como leitora.
Texto: Nezu Kanako
Agitogi Akumi:
Nascida em Nagano. Estreou em 2019
com “Meu Casamento Feliz” (KADOKAWA). Além da versão em mangá desta obra estar
sendo serializada na revista GanGan Online (mangaká: Kōsaka Rito, design original
de personagens: Tsukioka Tsukiho, volumes publicados pela Equare Enix), está
planejada uma leitura dramática para este verão.
Resumo:
Saimori Miyo é uma jovem que,
embora tenha nascido em uma linhagem familiar possuidora de habilidades
especiais sobrenaturais, não herdou essas habilidades e recebe ordens de se
tornar noiva de Kudō Kiyoka, um jovem belo que tem fama de ser frio e
implacável. No começo, ela recebe um tratamento frio de Kiyoka, porém, ao
viverem juntos e enfrentarem diversas dificuldades, os dois aos poucos criam
laços emocionais.
Livros de fantasia
histórica eram meus favoritos
– Esta é sua obra de estreia. Por
volta de quando você teve por objetivo tornar-se uma escritora?
Eu não tinha pensado claramente até
este momento em me tornar escritora, porém creio que comecei a achar que
imaginar histórias era algo divertido por volta do período em que era estudante
do Ensino Fundamental. Nas aulas de Língua Japonesa, quando eu imaginava
histórias vendo os desenhos e fotos, ficava pensando como o ato de as escrever era
interessante.
A vontade de escrever algo próprio apareceu
depois que me tornei estudante do ginasial. A partir daquela época, escrevia em
meus cadernos histórias de fantasia e mostrava para amigos com quem tinha boas
relações. Eles diziam que era interessante ou que queriam saber a continuação e
isso me deixava feliz.
– Quais livros você lia nessa
época? Há algum autor cuja influência você recebeu?
Eu sempre gostei de leitura e
quando estava nos anos finais do Ensino Fundamental lia com afinco obras que se
passam em outros mundos com um toque de elementos chineses como “Relato dos
Doze Reinos” (“Jūni Kokuki”, autora: Ono Fuyumi), “Narrativas da Terra das
Nuvens Coloridas” (“Saiunkoku Monogatari”, autora: Yukino Sai), e “Registros de
Guerra de Arslan” (“Arusurān Senki”, autor: Tanaka Yoshiki). Eu lia com
bastante frequência obras de fantasia histórica. Nessas três histórias, os
personagens estão escritos com suas próprias individualidades, há elementos
épicos e, embora seja um mundo ficcional, parece que estou olhando para um
pedaço de livro de História, o que eu achava interessante, então lia muito.
Quando estou lendo fantasia, não
sinto vontade de ir para os mundos, porém sinto admiração por serem completamente
diferentes do mundo em que estou e ao ler as coisas que os outros escrevem ficava
empolgada pensando que tipo de personagem colocaria se fosse eu a criadora.
– Há alguma obra que a influenciou especificamente?
Quando escrevo “Meu Casamento
Feliz”, acho que as influências diretas sobre mim são as obras “RDG – Red Data
Girl” de Ogiwara Noriko e “O Dia a Dia Elegante no Apartamento dos Yōkais” (Yōkai
Apāto no Yūga na Nichijō) de Kōzuki Hinowa, as quais li quando estava no
ginasial. Eu me sinto atraída por histórias nas quais pessoas normais vão para
a escola, vivem suas vidas normalmente, mas por trás dessa fachada elas na
verdade tem uma habilidade um pouco misteriosa.
Pegar por si mesma a
oportunidade de mudar
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Ilustração: Tsukioka Tsukiho |
– Por culpa da criação que teve, em
que foi oprimida por sua madrasta e sua irmã mais nova, sendo tratada com
empregada, a Miyo, protagonista desta obra, tem enraizado o hábito de julgar os
outros pela aparência e a personalidade de alguém que se desculpa
automaticamente quando os outros fazem qualquer tipo de alusão ao seu
comportamento.
Olhando objetivamente para esta obra,
penso fortemente que não importa o quão terrível seja o ambiente onde uma
pessoa está, em alguma parte dele certamente haverá uma oportunidade para ela conseguir
mudar. Se conseguirá materializar isso ou não depende dela, por isso acho
importante que ela procure evitar ao máximo deixar tudo para os outros fazerem.
– Não devem ser poucas as leitoras
que, vendo esta Miyo em forte estado de autonegação, identificam-se com a personagem.
Você teria algum conselho ou mensagem para as pessoas que se autodepreciam ou acham
que não têm valor?
Como é comum que eu própria,
olhando meus manuscritos, pense que ninguém vai querer ler as coisas que
escrevo (sorriso amargo), não conseguiria aconselhar muito bem, porém penso que
a autoexpressão é algo importante.
No meu caso, quando começo a ter
dúvidas, eu peço que alguém me ouça, ou transformo isso em obra e entrego para
o mundo; quando estou me sentindo deprimida, acho que é bom começar a escrever
em algo. Fazendo isso, consigo olhar para mim mesma de forma um pouco mais
objetiva e pensar que talvez eu não seja tão ruim assim.
– Miyo e Kiyoka estão ambos em
estado de “amor mútuo não-correspondido”, em que sentem afeição um pelo outro,
mas não conseguem colocar em palavras ou ações. A partir disso, eles vão
diminuindo sua distância e, após entenderem que esse sentimento é amor, começam
a transmitir isso aos poucos para seu companheiro.
Tanto Miyo quanto Kiyoka são
imaturos, ou melhor, eles estão em um estado mental no qual não conseguem
chegar no ponto do “amor”. Eu pensei que, para que conseguisse levá-los até
esse momento, devia fazê-los crescer enquanto seres-humanos dentro do
desenvolvimento da história.
– Esse amor dos dois que não
progride rápido o suficiente é doloroso, mas também faz o coração palpitar!
Por mais que você se apaixone por
alguém, penso que você só conseguirá refletir sobre qual a melhor forma de se
conectar com seu companheiro ou como cuidar dele quando você tiver crescido
como ser humano. Por isso o relacionamento dos dois está naturalmente indo em
um ritmo calmo.
Especialmente a Miyo. Como ela
estava cheia de seus próprios problemas quando havia acabado de chegar à casa
de Kiyoka, não havia espaço em seu coração para considerar o que seu parceiro
estaria pensando. Então achei que, até seu sentimento por Kiyoka chegar ao
“amor”, levaria algum tempo.
– A Miyo também tem crescido aos
poucos, passando a conseguir expressar seus próprios pensamentos e agir em prol
de alguém, porque aumentou seu contato com outras pessoas, não é?
Lá para o começo da história não há
muito essa impressão, mas eu criei a Miyo como uma personagem obstinada, que
diz as coisas de forma clara, uma mulher de essência forte. Na verdade, ela
mesma não percebe, mas o fato de conseguir aos poucos ver por si mesma o que
gostaria de ter dito em ocasiões passadas faz parte de seu crescimento atual.
– O que você considera importante
no processo de crescimento das pessoas?
Relacionar-se com outras pessoas
além de si mesmo. A Miyo, excetuando-se o período em que frequentou o Ensino
Fundamental, não teve muito contado com pessoas do mundo externo e, estando
cercada por pessoas que a menosprezavam continuamente, só conseguia pensar que
não valia nada; por isso sentia como se o tempo estivesse parado ali. Então eu
acho que existe isso de você vir a enxergar a si próprio através do
estabelecimento de relações com outros.
O
componente sobrenatural é o tempero do drama
– Você introduziu nesta obra a
habilidade sobrenatural chamada “dom para ver demônios” em que os personagens
conseguem ver demônios e espíritos. Qual o charme desse componente de fantasia?
Há opiniões de quem acredite que o
componente sobrenatural não era necessário, mas eu acho que eles se tornam o
tempero do drama. Um enredo que só tenha amor normalmente é interessante também,
mas já não há muitas obras maravilhosas com histórias de amor que têm por palco
os períodos Meiji e Taishō e não contêm elementos de fantasia como “Haikara-san
ga Tōru”? Como eu li bastantes “light novels”, tinha o pensamento de que seria
interessante se a história tivesse ação, poderes sobrenaturais e uma
organização mais chamativa.
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Versão em mangá de "Meu Casamento Feliz" |
– Pessoas que gostam de fantasias, pessoas
que gostam de histórias de amor... é uma obra na qual se pode entrar de
diversos ângulos. E ela está se expandindo por diversos formatos, com
quadrinização, leitura dramática etc.
O que eu escrevi está sendo
transformado por diversas mãos em várias franquias de mídia. Através disso, eu verei
lados diferentes da minha obra e a profundidade dela que não tinha percebido por
mim mesma antes, não é?
– O casamento deles está sendo
preparado para acontecer na primavera. Mas parece que ainda há questões a serem
resolvidas e obstáculos a serem superados. Que tipo de episódios estão escritos
no volume mais recente, o quinto?
No quinto volume, uma religião do
sobrenatural que tem a Miyo por alvo vai se tornar ativa, então a sensação de
urgência continuará. E a natureza da relação entre Miyo e Kiyoka vai mudar um
pouco? Parece que vai mudar? Eu escrevi objetivando esse tipo de cena que faz o
coração palpitar, então ficaria feliz se vocês aguardassem ansiosamente o
desenvolvimento da história daqui em diante.