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terça-feira, 20 de outubro de 2020

(TRADUÇÃO) Boys’ Love: o gênero de romance gay televisivo que está tomando o Sudeste Asiático

  Mais uma tradução minha, dessa vez de uma matéria do VICE de junho (leia aqui) escrita por Chad de Guzman. A imagem vem do artigo original.

Boys’ Love: o gênero de romance gay televisivo que está tomando o Sudeste Asiático 

Alguns o veem como uma vitória para a diversidade, enquanto outros temem representações problemáticas da comunidade LGBTQ 

Arte feita por fã de 2Gether

 DANIEL, 30, tem trabalhado de casa em Banten, Indonésia, desde abril. Com medidas de distanciamento social devido à pandemia de coronavírus, os dias se passam com um trabalho árduo sem fim na forma da escrita de relatórios e o envio de e-mails. Mas as sextas-feiras são especiais. Até recentemente, elas eram usadas para esquecer a vida enfadonha sob a quarentena, enquanto esperava um episódio de seu programa televisivo favorito ser lançado às 21h30. Ele sentava em sua cama, entrava no Youtube e esperava por horas com o celular em sua mão até que visse três palavras aparecerem na tela: “2Gether: The Series”. 

 O programa, produzido pelo canal tailandês GMMTV, conta a história de dois garotos universitários fingindo ter um relacionamento para afastar um rapaz gay que acabam apaixonando-se um pelo outro no processo. Como alguém que se identifica como bissexual, isso é tudo que Daniel, que gostaria de poder revelar seu primeiro nome, queria ver enquanto crescia. 

“É como ver uma imagem de mim mesmo”, Daniel contou ao VICE. 

 A televisão indonésia está cheia de “sinetrons”, ou novelas que têm roteiros mirabolantes, música melodramática e efeitos especiais de baixo orçamento. Esses dramas devem aderir aos padrões conservadores do Islã, o que significa não poder haver palavrões, nem roupas que revelem muito e obviamente nenhum relacionamento gay. 

 Enquanto crescia, Daniel nunca se viu representado na mídia, razão pela qual ama 2Gether tanto assim. Ele assistia um episódio três vezes em um dia, mesmo com os mesmos não tendo legendas em sua língua. E ele não está só. 2Gether é popular por todo o Sudeste Asiático, e é apenas o exemplo mais recente de um crescente gênero televisivo chamado Boys’ Love (BL). O nome já diz tudo: no centro de todo programa BL está uma história de amor gay. 

 O sucesso de 2Gether mais cedo esse ano empurrou a popularidade do gênero para além dos seus limites. O programa estreou em fevereiro e tornou-se um sucesso cult já em março, conforme mais pessoas ficaram em casa devido à pandemia. Na Tailândia, a GMMTV comunicou que o programa tinha mais de 100 milhões de visualizações na plataforma de streaming local LINE TV já em 19 de abril. Isso fora o público que viu pela TV ou pelo Youtube. 

 Foi a transmissão ao vivo no Youtube todas as sextas-feiras que cruzou as fronteiras no Sudeste Asiático. De acordo com a empresa de dados de redes sociais Social Blade, o primeiro episódio de 2Gether é um dos mais vistos dentre os mais de 10.000 vídeos da GMMTV no Youtube, agora com mais de 9 milhões de visualizações.

 A hashtag #2GetherTheSeries ficou nos assuntos mais comentados do Twitter na Indonésia, nas Filipinas, na Malásia e no Camboja sempre que novos episódios eram lançados. Os atores principais Vachirawit Chiva-aree e Metawin Opas-iamkajorn também atraíram massivamente seguidores nas redes sociais – Vachirawit tendo 4,3 milhões de seguidores no Instagram e Metawin tendo 3,1 milhões, até o momento. 

“É uma fantasia”, disse Daniel, que não saiu do armário para sua família, sobre o BL. 

“Onde eu moro, quem eu sou... especialmente como muçulmano, é extremamente proibido.” 

 Esses programas são para ele uma forma de viver uma vida que ele sempre desejou, em que ele poderia amar qualquer um livremente e ser amado de volta. Para muitos asiáticos LGBTQs, a ascensão do BL é uma vitória para a representatividade. Mas os programas são populares também entre pessoas heterossexuais, particularmente entre mulheres. 


 ANGGI Anggraeni, uma estudante de 20 anos de Bali, Indonésia, disse que começou a assistir a BLs quando tinha 15 anos, para saber mais sobre pessoas LGBTQ. 

“A primeira série tailandesa que eu vi foi Hormones, e nela havia uma garoto confuso sobre sua orientação sexual e que gostava tanto de seu amigo quanto de sua amiga,” disse Anggraeni. “Isso abriu os meus olhos.” 

 Phim Jena, 22, uma estudante no Camboja, começou a assistir aos BL aos 14 anos. Ela é fã de suas tramas “eu e você contra o mundo”. 

“O comum em programas BL é que eles tentam nos mostrar que o amor entre pessoas do mesmo sexo também é amor,” Phim explicou. 

 Ela disse que tem visto um aumento na aceitação de LGBTQs no Camboja na última década, apesar da visão de mundo homofóbica de gerações mais velhas. 

 A imagem do BL como um ícone da diversidade é relativamente nova. Na verdade, ele nunca foi feito para a comunidade LGBTQ. O gênero tem suas origens no Japão de 1970, quando era chamado de “yaoi”, que significa literalmente “sem clímax, sem queda, sem sentido”. Na época, isso referia-se aos mangás, animês e séries que eram feitos exclusivamente por mulheres e para mulheres. Eles pareciam-se mais com um soft porn sem um roteiro claro do que com as séries adolescentes que são hoje. 

 Um estudo de 2018 descobriu que mulheres gostam de yaoi porque ele vai contra os estereótipos de gênero e as mensagens patriarcais de relacionamentos heterossexuais. Para algumas mulheres, as cenas de sexo em yaois parecem também menos ameaçadoras do que aquelas que apresentam casais heterossexuais, porque a falta de uma personagem feminina de alguma forma faz elas parecerem menos íntimas e pessoais. Cópias do conteúdo BL eventualmente se espalharam mundo afora pela Internet durante os anos 90, criando um culto de seguidoras na China, em Taiwan e na Tailândia.

 “Antes que as fãs tailandesas criassem sua própria ficção original yaoi ou BL, elas leram mangas BL traduzidos do Japão,” disse Natthanai Prassanam, um professor de literatura na Universidade Kasetsart de Bangkok. “Era algo bastante popular no final dos anos 90 e início dos anos 2000”. 

 O gênero televisivo explodiu em popularidade na Tailândia em 2014, com o programa Love Sick: The Series. De acordo com Prassanam, os 14 episódios do programa tiveram uma média de 3,8 milhões de visualizações cada no Youtube. O sucesso levou outras empresas a produzirem mais séries BL como SOTUS: The Series (2016), 2Moons: The Series (2017) e Love By Chance (2018). Agora, tramas BL são algo básico nas novelas tailandesas. 

 Na China, o gênero ficou popular em 2016, com a série online Addicted. Os produtores do programa disseram que o mesmo tinha 10 milhões de visualizações no dia seguinte ao seu lançamento inicial. Contudo, para o espanto de seus fãs, a série foi retirada da plataforma de streaming iQiyi, três dias antes de seu décimo quinto e último episódio ser transmitido. Os showrunners apenas se referiram ao “contexto mais amplo da China” ao explicarem a retirada. Os fãs então subiram os episódios com legendas no Youtube, onde agora eles têm uma média de 500.000 visualizações cada. 

 O BL também está crescendo nas Filipinas, em que a ABS-CBN, a maior rede de mídia do país, está para lançar 2Gether em seu canal a cabo e em sua plataforma online. Em junho, a emissora também mostrou os pôsteres promocionais de uma série BL filipina que está para estrear chamada Hello, Stranger. 

 Enquanto muitos veem a popularidade do gênero como boas notícias para pessoas LGBT, alguns membros da comunidade são mais céticos quanto a isso. 


 JESUS Falcis, um filipino de 33 anos que se identifica como gay, disse que embora ele assista séries BL, ele também acha que elas perpetuam papéis de gênero antiquados. 

 Eles escrevem personagens (gays) de uma forma que parece que há um marido e uma esposa,” disse Falcis, explicando que os programas tendem a estereotipar homens gays como ou “ativo (dominante)” ou “passivo (submissivo)”. 

 Personagens bidimensionais como a mulher transexual que é apenas simbólica ou a insuportável antagonista também são muitos comuns. 

 Aam Anusorn Soisa-ngim diretor tailandês que trabalhou em uma série BL, disse que arquétipos estão presentes em muitos BL tailandeses e podem ser muito problemáticos. Por exemplo, muitas das histórias de amor começam com um homem abusando sexualmente ou estuprando outro, apenas para o sobrevivente apaixonar-se por seu estuprador. 

“É desrespeitoso,” disse Soisa-ngim. “Há zero direitos humanos. É muito ruim.” 

 E embora os programas BL tenham quebrado barreiras para a comunidade LGBTQ, ele disse que, nos bastidores, há muito trabalho a ser feito. Ele contou um incidente durante a gravação de uma série BL, quando membros da equipe fingiram vomitar enquanto os dois protagonistas beijavam-se. Soisa-ngim também disse que alguns atores tailandeses heterossexuais apenas usam o BL como um degrau para suas carreiras. 

“Eles atuam em apenas uma ou duas séries e depois ficam ‘Ah, eu vou dizer adeus ao BL. Eu não vou mais atuar em BL,’” disse ele. 

 Outros cineastas dizem que séries BL só podem ser de fato inclusivas se elas forem criadas com a comunidade LGBTQ em mente. 

 Um dos primeiros programas BL prestes a ser lançado nas Filipinas é feito por um time em que a maioria dos membros são pessoas LGBTQ – do roteirista Juan Miguel Severo aos diretores e compositores musicais. 

 “Todo o time passará por um workshop de sensibilidade ao gênero e uma SOGIE (discussão educacional) antes da parte oficial da produção”, Severo contou ao VICE. 

Embora 2Gether ainda tenha alguns arquétipos, os fãs dizem que ele é mais genuíno e captura a experiência de transição à vida adulta de pessoas gays. O último episódio da série foi ao ar em 15 de maio, mas em primeiro de junho a GMMTV anunciou que lançaria cinco episódios adicionais em uma antologia chamada Still 2Gether. 

Como sempre, Daniel disse que estará em casa na Indonésia, aguardando esses episódios saírem semanalmente, com a esperança de que, um dia, ele também experienciará o amor que vê em tela.

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