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segunda-feira, 19 de outubro de 2020

(TRADUÇÃO) Tudo o que você precisa saber sobre a florescente cultura Boys’ Love da Tailândia

 Tradução que fiz de uma matéria de junho da Time Out Bangkok. O link original está aqui. Todas as imagens são do artigo deles.

 Tudo o que você precisa saber sobre a florescente cultura Boys’ Love da Tailândia

As séries Boys’ Love da Tailândia estão em ascensão e podem tornar-se o principal produto de entretenimento exportado do país 

 Para muitos de nós, as noites de sexta-feira durante a quarentena significaram maratonar novos programas na Netflix. Mas para milhões de fãs de Boys’ Love (Y em tailandês) ao redor da Ásia, essas foram noites para fixar seus olhos nas telas para assistir ao episódio mais recente de 2gether: The Series, indiscutivelmente a série Boys’ Love mais popular da Tailândia. 


 LINETV/GMMTV

 Ao longo das 13 semanas em que a série foi exibida, a hashtag #2gethertheSeries ficou no topo dos assuntos mundiais do Twitter – a rede social favorita dos fãs de Boys’ Love – e desencadeou milhões de conversas virtuais sobre a série em várias línguas, do tailandês ao chinês e ao inglês. A série foi tão popular que seus atores principais, os novatos Vachirawit “Bright” Cheva-aree e Metawin “Win” Opas-iamkajorn, ganharam mais de um milhão de seguidores do mundo inteiro no Instagram em apenas algumas semanas. 2gether: The Series tornou-se o fenômeno global que ninguém esperava. 

Quando garotos amam garotos 

 A presença de séries Boys’ Love, um gênero dramático único que retrata relações homoeróticas entre personagens masculinos, tem aumentado significativamente em anos recentes. Narrativas que giram em torno de dois garotos em uma relação romântica eram no geral tramas secundárias antes da série de 2014 Love Sick, a qual foi um ponto de virada significante nesse subgênero. Foi provavelmente a primeira vez na história da indústria do entretenimento tailandês que dois garotos com inclinações homossexuais foram apresentados como protagonistas. 

 Desde então, outros jogadores entraram nesse mercado, inclusive a GMMTV, uma subsidiária do maior conglomerado de entretenimento da Tailândia, a GMM Grammy, e produtora de 2gether: The Series. 


GMMTV

 Noppanat Chaiwimol, um diretor e produtor da GMMTV (foto acima), conta-nos que a empresa escolheu primeiro um caminho menos óbvio ao inserir personagens Boys’ Love em séries heterossexuais (Tay-New de Kiss e Pik-Low de Senior Secret Love, por exemplo). Após receber um feedback positivo, a potência do entretenimento decidiu ir até o fim. Sotus foi a primeira tentativa. “Naquela época, era controverso para uma grande empresa do entretenimento colocar dois caras como um casal. Bem, a série acabou por ser um grande sucesso e Krist-Singto (o ship dos atores da série) ainda está aí hoje, mesmo que já tenha passado por volta de quatro ou cinco anos”. 

 A LINETV, a plataforma de streaming gratuita que tem transmitido séries Boys’ Love como Make it Right e Sotus desde 2016, diz que a quarentena do coronavírus trouxe o maior aumento em visualizações de sua história. De um índice de audiência de cinco porcento em 2019, só no primeiro trimestre de 2020 já houve um pico de 34 porcento. “Boys’ Love não é mais um subgênero. Tornou-se mainstream.”, diz Kanop Supamanop, vice-presidente da LINE para negócios relativos a conteúdo. A LINE TV sozinha atualmente tem em seu catálogo 33 – e contando – séries Boys’ Love tailandesas em sua plataforma, fazendo dela a maior produtora desse subgênero na Tailândia. 

Lendo amor nas entrelinhas 

 Como muitas séries Boys’ Love anteriores a ela, 2gether: The Series é baseada em um romance homônimo. 

 Boys’ Love tailandeses são uma apropriação local do yaoi, a ficção homoerótica cuja forma é originária do Japão e gira em torno de narrativas românticas entre um garoto masculino (chamado de seme) e um mais feminino (chamado de uke). Tradicionalmente, o yaoi é criado, consumido e favorecido por mulheres. Essa subcultura japonesa chegou à Tailândia uma década atrás na forma de romances. A comunidade de leitoras de Boys’ Love floresceu bem antes de sua cultura chegar à tela pequena. 

“Começou como cultura underground, antes de emergir à superfície por volta de 2011 e 2012. O gênero cresceu e desabrochou por volta de 2014-2015.”, diz o Dr. Utain Boonorana, um médico que é também autor de ficção LGBTQ, conhecido por seus pseudônimos, Patrick Rangsimant e Mor Tood (“Doutor Homo”, em tailandês). Dentre os romances Boys’ Love que ele escreveu, está incluído o My Ride, I Love You, o qual foi traduzido para o inglês e está para se tornar uma série televisiva. 


Editora Deep

 Entre em qualquer livraria grande de Bangkok – assim como de outras das principais províncias – agora e você verá algo que há alguns anos seria novidade: romances Boys’ Love tomando mais e mais prateleiras. 

 Observando o crescimento da literatura Boys’ Love, a editora com décadas de existência Sataporn Books aderiu à onda em 2018 e lançou um selo novo chamado Deep. Até o momento, o Deep lançou 70 títulos Boys’ Love, e 20 deles estão sendo produzidos para se tornarem séries televisivas. “Acho que a sociedade parece estar aceitando mais a ficção Boys’ Love.”, diz Jetiya Lokitsataporn, a dona da Sataporn Books. Ela continua, explicando que a indústria de Boys’ Love tem visto um tremendo crescimento porque mais produtores, incluindo de canais grandes, têm mostrado interesse em transformar esses romances em séries televisivas. A existência de mais séries implica em uma melhor vendagem dos romances. 

Jetiya aponta também que tem visto menos histórias sobre estudantes e mais sobre pessoas que têm carreiras de fato. “Há também mais ficção de fantasia, como aquelas em que homens podem ficar grávidos.  Se é tratada como fantasia, pode-se simplesmente aceita-la (como entretenimento).” O Deep também está vendendo os direitos de seus romances para editoras internacionais em Taiwan, Japão e Coréia do Sul. 

A fórmula (clichês) que garante sucesso 

 Similar a muitas outras mídias de Boys’ Love tailandesas de sucesso, 2gether: The Series centra-se em estudantes universitários vivendo enredos irreais e tomando parte em conversas um tanto irracionais. São esses elementos que parecem garantir o sucesso de séries Boys’ Love – quer dizer, com o adicional de ter personagens atraentes e com química em tela. Outras séries de sucesso como TharnType e En of Love também caem nesses clichês. 

A maioria das leitoras e autoras são adolescentes, então a vida em faculdade é o que está mais próximo da vida real delas” diz Utain, acrescentando “Pré-adolescentes e adolescentes (as quais são os principais grupos alvos) não seriam capazes de entender como uma mulher de 30 e poucos anos frustrada realmente se sente em relação à vida... elas não conseguirão empatizar”. 


LINE TV

Curiosamente, todos os protagonistas de Boys’ Love vêm da mesma demografia. Uma paródia dessa subcultura apontou que a maioria dos protagonistas são estudantes de engenharia ou de medicina que provêm de meios abastados. 

 O pesquisador Dr. Ronnayuth Euatrirat, que está estudando o fenômeno do Boys’ Love tailandês, explica que talvez isso se deva ao fato de muitos romances Boys’ Love terem autoria feminina. “Achamos que personagens de Boys’ Love refletem os desejos de uma mulher jovem. Um estudante de engenharia, por exemplo, é uma típica personificação desejável de um homem de quem se pode depender. Esses personagens também têm uma aparência masculina e vêm de meios ricos. Esses padrões respondem às necessidades das mulheres.” 

A GMMTV, agora a produtora mais conhecida de séries Boys’ Love tailandesas, está se arriscando ao mudar esses padrões clichês. Mais tarde esse ano, ela lançará A Tale of Thousand Stars, sua primeira série Boys’ Love que não apresenta um adolescente, nem um estudante de engenharia, como protagonista. Em vez disso, haverá uma relação florescente entre um professor voluntário e um oficial de silvicultura. Noppanat, que está escrevendo o roteiro e dirigindo a série, quer explorar novas possibilidades no campo do Boys’ Love. Apesar de a série ainda estar para estrear, o material promocional tem recebido respostas positivas de fãs de Boys’ Love que estão começando a cansar de fantasias adolescentes. 

LGBTQ e Boys’ Love: dois universos paralelos? 

 O amplo acolhimento e popularidade dos Boys’ Love tailandeses deve muito à liberdade de expressão de gênero na Tailândia. Mas estaria a comunidade LGBTQ beneficiando-se de fato da crescente popularidade de romances e séries Boys’ Love? 

 Alguns defensores LGBTQ locais rejeitam a cultura Boys’ Love, dizendo que a mesma não reflete as vidas reais de indivíduos LGBTQ e mesmo retrata uma percepção falsa da comunidade, mas os especialistas com quem falamos não concordam completamente com isso. 

 Noppanat reconhece que esse é um tópico o qual se pode passar dias discutindo. O produtor e diretor veterano, que está pesquisando sobre Boys’ Love há mais de cinco anos, não acha que essas séries sejam “fantasiosas demais” e não reflitam apropriadamente a comunidade LGBT. 


GMMTV

“Todas as séries Boys’ Love giram em torno de relações entre pessoas do mesmo sexo, então pessoalmente eu acho que elas representam a diversidade. Elas são uma subparte do gênero LGBTQ. Contudo, ao fim e ao cabo, nós estamos falando do gênero Boys’ Love que foca em fantasia romântica e não em questões LGBTQ mais sérias como igualdade e HIV. Estando no meio dessa longa discussão por tanto tempo, eu tive de achar o balanço certo entre as necessidades do público e o que é preciso ser feito,” ele explica. “Muitos indivíduos LGBT possivelmente vivem suas vidas como aqueles (em séries Boys’ Love). Vê-se casais do mesmo sexo jovens em todos os lugares, certo? A sociedade está mais aberta e eles podem não ter de superar tantos obstáculos quanto aqueles que vieram antes. Então se você levar isso em conta, séries Boys’ Love poderiam ser (exemplos da sociedade) reais.” 

 Ele mesmo um defensor dos direitos LGBT, Nopparat tenta inserir uma mensagem sobre aceitação de gênero em toda série Boys’ Love que ele produz. Ele é também a mente por trás das produções LGBTQ da GMMTV, muitas das quais têm sido elogiadas por suas narrativas complexas e instigantes, inclusa aí Gay OK Bangkok. “Nós vemos narrativas novas, mais diversidade surgindo a cada dia. Por exemplo, estou muito interessado no gênero fluido sobre o qual os jovens têm falando ultimamente. O mundo dos LGBTQs é sensível e precisa ser mais explorado.” 

 O efeito borboleta: as consequências inesperadas da popularidade 

 Há alguns meses, uma das jovens estrelas protagonistas de 2gether: The Series postou comentários em uma rede social que alegadamente criticavam o poder que a China tem sobre Hong Kong e Taiwan. Embora seus comentários tenham claramente sido mal interpretados e tirados fora de contexto, eles não impediram que uma verdadeira guerra explodisse no Twitter. Usuários tailandeses e chineses, fãs de Boys’ Love e mesmo simples detratores trocaram igualmente insultos. Não demorou muito até que hongkongoneses e taiwaneses se metessem na conversa e se juntassem com os tailandeses em uma coalisão digital chamada “Aliança do Chá com Leite”. Até mesmo o famoso ativista político de Hong Kong Joshua Wong mostrou seu suporte à afiliação. 

 Quando a embaixada da China na Tailândia emitiu uma declaração em sua página do Facebook (a qual não foi bem recebida por internautas), todos perceberam que as coisas tinham saído do controle. O assunto controverso virou manchete de muitas agências de notícias, inclusive do Reuters. 

 Mas como tudo no universo do Twitter, o fogo apagou tão rápido quando iniciou. Após algumas semanas, a disputa online morreu, mas acabou deixando a série mais popular do que nunca. 

O soft power em construção

 A aplicação da cultura de uma nação como um soft power (poder brando), uma ferramenta de relação internacional persuasiva e indireta, tornou-se uma prática global comum. Por exemplo, o k-pop tem sido há anos um dos principais produtos exportados da Coréia do Sul, repercutindo – e gerando dinheiro – mundo afora. Em 2018, foi notificado que as exportações de materiais culturais coreanos valiam US$9,55 bilhões. 

Similarmente, o Boys Love tailandês está tornando-se mais popular pela região, mas poderia ele torna-se tão influente a ponto de afetar relações pan-nacionais e eventualmente evoluir para um novo soft power da Tailândia? 

 “A Coréia do Sul está exportando a cultura do k-pop e, quer saber, nós agora estamos exportando séries Boys’ Love,” diz Utain, acrescentando que fãs de Boys’ Love ao redor do mundo elogiaram as versões tailandesas como algumas das melhores do mundo. “Há comunidades que monitoram as séries Boys’ Love tailandesas. Pode haver uma nova página do Facebook surgindo assim que sair a notícia do lançamento de uma nova série Boys’ Love.” 


GMMTV

 Pouco após o encerramento de 2gether: The Series, a GMMTV anunciou uma série de eventos virtuais com fãs com a participação de protagonistas de outras séries Boys’ Love – e com moderação em várias línguas, ainda por cima. Os ingressos foram vendidos mundialmente. Não é preciso ser economista para dizer que a GMMTV definitivamente obterá um lucro robusto. 

“Estou muito confiante na qualidade das séries Boys’ Love feitas por muitas produtoras tailandesas. 2gether: The Series, por exemplo, provou-se bem-sucedida,” diz Noppanat. “Foi a primeira vez que nós vimos oportunidades em novos mercados. América do Sul, Europa, o hemisfério ocidental. 2gether: The Series foi o estudo de caso (para provar) a todos nós que poderia ir além dos fãs de Boys’ Love."

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