Postagem em destaque

TODOS OS DORAMAS BL JAPONESES (LISTA)

Lista de todos os doramas BL lançados no Japão, com suas respectivas datas de estreia. Os que tiverem entrevistas com os atores traduzidas a...

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

ENTREVISTA: TAMURA YUMI FALA SOBRE O DORAMA DE "NÃO CHAME DE MISTÉRIO" E AS IDEIAS QUE PERMEIAM SUA OBRA (PARTE 1)

Durante a exibição do dorama “Não Chame de Mistério” em 2022, Tamura Yumi, a autora do mangá, concedeu uma entrevista para a edição online da revista FRaU (Kodansha), publicada em duas partes. Para quem quiser ler o texto em japonês, ele está aqui. Segue a tradução da parte um (os trechos destacados em negrito são todos do original, não meus):

P.S.: Como a entrevista foi feita há dois anos, o mangá já está no volume quatorze.

 


Tamura Yumi de “Não Chame de Mistério” – “Fiquei muito satisfeita ao ver que Suda Masaki pensou com tanto cuidado ao interpretar o Totonō.”

 

O dorama estreado em janeiro de 2022, “Não Chame de Mistério” (Fuji TV, todas as segundas, às 21h) tem mantido, desde seu primeiro capítulo, uma audiência de dois dígitos (audiência medida por domicílio/pesquisa feita pela Video Research) e até 15 de março a retransmissão online ultrapassou 30 milhões de visualizações (32.020.000 visualizações, de acordo com pesquisa feita pela Video Research), sendo o primeiro programa de um canal comercial a conseguir tal feito. Há várias razões para esse sucesso, mas, dentre elas, houve o respeito pela obra original de Tamura Yumi (no presente, 21 de março de 2022, com 10 volumes à venda – além da serialização na revista Flowers) e um cuidado com ela enquanto faziam uma adaptação live action que fosse típica de um dorama. O resultado dessa reação química é certamente grande.

“Como o personagem Kunō Totonō nasceu?”, “Como você se sentiu em relação ao dorama?”. Nós fizemos uma entrevista por e-mail com a mangaká Tamura Yumi, criadora da obra original que ultrapassou 15 milhões de volumes em circulação. Nesta parte um, começamos as perguntas a partir do momento em que ela viu o início da série.

 

“Quando vi o primeiro episódio, chorei um pouco escondida”

 

– Poderia perguntar-lhe novamente sobre a situação e suas impressões de quando viu o primeiro episódio de “Não Chame de Mistério”?

 

Tamura: Eu já havia recebido o episódio um, mas, como queria assistir normalmente quando fosse transmitido pela primeira vez na TV, aguentei e fiquei esperando. O pessoal da editora Flowers preparou um lugar e nós assistimos juntos em uma tela grande. Como não tinha conseguido ir no set de gravações do primeiro capítulo, estava ansiosa para ver como havia saído o resultado. Ahh, eu fiquei completamente absorvida. Assisti totalmente compenetrada. A ponto de nem ter conseguido ouvir a trilha que tocou no meio da história. Quando acabou, nós todos batemos palmas. Achei que ficou maravilhoso. Deu para perceber que tanto a equipe quanto os atores fizeram o dorama com o máximo de dedicação. Eu chorei um pouco escondida. Fiquei muito satisfeita ao ver que Suda Masaki pensou com tanto cuidado ao interpretar Totonō. O pessoal do Departamento de Polícia de Ōdonari também, claro, e especialmente a tremenda atuação de Endō Kenichi. Foi uma noite extremamente feliz.


– Pessoalmente, eu sinto o calor desta obra a ponto de querer agradecer-lhe por ter criado o personagem Kunō Totonō. Poderia explicar-nos o processo que levou ao nascimento dele?

 

Tamura: Normalmente eu costumo desenhar coisas que têm ação aos montes, mas, como esta história era um oneshot no começo, quis tentar algo diferente do que sempre faço. Pensei em desenhar um ambiente fechado focado em uma única situação onde as pessoas apenas falassem. Quando estava refletindo sobre isso, o Totonō apareceu tranquilamente. Não é nem um pouco como se eu tivesse tido dificuldade ao moldá-lo ou tivesse ficado perdida. Ele realmente estava lá tranquilamente. Tentar mudar um pouco meu traço e não colocar o Totonō (o Garo, eu coloquei) fazendo os monólogos que eu normalmente uso bastante foram também pequenas aventuras para mim.

Porém, só no caso do primeiro capítulo, como eu o fiz na forma de oneshot, creio que seja difícil entender o temperamento do protagonista. Após isso, a história virou uma serialização e aos poucos a gentileza dele começou a aparecer, e pudemos ver suas mudanças de sentimento, seus gostos, tanto seu lado interno quanto sua vida cotidiana.

Por isso, deve ter sido difícil para o Suda interpretar o Totonō nessa parte porque havia poucas dicas. É complicado conseguir ler que tipo de pessoa o protagonista é e o que está pensando, embora fale bastante. Suda conseguiu transformar o Totonō em alguém vivo personificando uma sinceridade e usando de uma capacidade de leitura e atuação pouco comuns que podem ser chamadas de geniais. Fico muito feliz que as leitoras estejam chamando-o de Totonō por aí e dando-lhe carinho. Porém mesmo eu ainda estou na jornada para conhecer o personagem.

 

“São respostas próprias para questões sobre as quais eu vinha refletindo há muito, muito tempo.”

 

– Têm surgido muitas vozes de fãs da obra original e de gente que conheceu o enredo pelo dorama afirmando que há verdade nas palavras do protagonista e elas reverberam no coração. Por exemplo, na conversa sobre colocar o lixo para fora, sobre relação entre pais e filhos, sobre bullying, sobre violência doméstica contra criança, sobre assassinato... Quando Kunō causa uma reação ao lançar sua frase de efeito “Isto é algo que sempre pensei”, eu pessoalmente também fico querendo colocar várias marcações enquanto leio. Essas são coisas que você tem pensado por um longo tempo?


Tamura: Por exemplo, “Por que as pessoas não podem matar?” é uma questão que eu vinha pensando há muito, muito tempo. E apresentei uma resposta muito própria do que eu acho neste momento. Talvez ela mude novamente no futuro. São coisas, palavras e casos que ficam na minha cabeça quando eu normalmente vejo o noticiário, assisto a filmes e doramas, relaciono-me com as pessoas etc e então reflito longamente tentando chegar ao âmago do problema. Creio que esteja enraizado em minha natureza fazer esse mergulho profundo. Se for para enredar isso na história de um jeito que faça sentido, eu coloco nas falas.

Porém isso não é exclusivo desta obra, mas algo que tenho feito nas histórias que desenhei até aqui também. É só que desta vez, como essas falas estão concentradas no Totonō, talvez elas acabem se destacando.

 

“É óbvio que as pessoas sejam fracas e quebrem.”

 

– Em relação às palavras sobre bullying do volume 2 (episódio 2 do dorama) e às palavras sobre violência doméstica contra crianças do volume 5 (episódio 6 do dorama), a jornalista Shimazawa Yūko escreveu “A obra ‘Não Chame de Mistério’ realmente diz as coisas como elas são, é impressionante”, dedicando artigos para falar sobre as duas coisas. Parece que ela ficou tão empolgada que comprou todos os volumes. Quanto ao bullying e à violência doméstica contra crianças, sinto que “Não Chame de Mistério” tem como um de seus temas centrais fazer refletir sobre o que é a gentileza. Como você percebe esses dois assuntos?

 

Capa do volume 14

Tamura: Eu não estudei esses assuntos de maneira especializada e apenas desenho sobre as dúvidas que senti e sobre as quais pensei ao viver normalmente a minha vida. Por isso é uma grande honra que uma jornalista especializada nisso tenha pegado meus mangás e eu tomei um susto quando soube. Muito obrigada.

Quanto a essas questões, gostaria que mais pessoas entendessem a importância do cuidado psicológico, o que inclui o controle da raiva. Penso que se conseguissem salvar o lado agressor antes que as coisas saíssem do controlem, evitariam criar vítimas. Seria bom se as pessoas que fazem o sistema pensassem que o ser humano ser fraco e quebrar é algo óbvio, mas que sempre é possível corrigir a rota, curá-lo e que, além disso, não há nada de muito especial nisso.

Acredito que não importa como você pense sobre isso, o problema do bullying está no lado agressor. No caso da violência doméstica, é importante não acuar (financeiramente, psicologicamente) a mãe.

Porém, é preciso apontar: todas essas são questões sobre as quais não dá para se falar como se fosse uma coisa só, são questões difíceis de julgar; e eu tenho consciência de que não posso, por mim mesma, entender a dificuldade de lidar com as situações reais e a angústia das pessoas que são atendidas.

 

Formatação/Texto: Shinmachi Mayumi


Nenhum comentário:

Postar um comentário

POSTAGENS MAIS VISITADAS