Segunda (e última) parte da entrevista com Tamura Yumi, feita em março de 2022, quando o dorama estava para exibir seu último capítulo. Para quem quiser ler em japonês, o link está aqui. Nomes na ordem original.
P.S.: Coloquei algumas notas minhas em azul ao longo do texto.
Tamura Yumi de “Não Chame
de Mistério”: O que Totonō vê, pensa e fala é mais importante do que a
resolução dos mistérios”.
O dorama “Não Chame de Mistério”
(Fuji TV, toda segunda-feira, às 21h00), iniciado em janeiro de 2022,
encaminha-se para seu final em 28 de março. Mantendo desde o primeiro capítulo
uma audiência de dois dígitos (medição por domicílio/pesquisa feita pelo Video
Research), é uma obra muito popular, a primeira de um canal comercial a
ultrapassar os 30 milhões de visualizações na retransmissão online (32.020.000
visualizações/também pesquisado pelo Video Research) até o dia 15 de março.
“Como o personagem Kunō Totonō,
interpretado por Suda Masaki, nasceu?”, “O que você sentiu em relação ao
dorama?”. Nós entrevistamos a mangaká Tamura Yumi, quem criou a obra original,
a qual já ultrapassa os 15 milhões de volumes em circulação (N.T.: na capa de edição de setembro de 2024 da revista Flowers, aparece que ultrapassou os 19 milhões). Na primeira parte,
“Tamura Yumi de ‘Não Chame de Mistério’ – ‘Fiquei muito satisfeita ao ver que Suda Masaki pensou com tanto cuidado ao interpretar o Totonō’”, pedimos suas impressões ao ver o primeiro capítulo e perguntamos sobre o processo de criação de Totonō.
Nesta segunda parte, indagamos se houve alguma mudança ao ver atores de carne e
osso interpretando seus personagens e sobre o futuro do mangá.
A felicidade de ter
atores de carne e osso interpretando seus personagens.
– Totonō apareceu como um dos detetives
famosos na lista do Guia Ilustrado de Detetives Famosos de “Detective Conan”. Há
algum ponto em que você tem dificuldade ou em que você foca sua atenção? Como
você cria as verdades por trás dos casos e os truques que as encobrem?
Tamura: Eu nunca pensei no Totonō como um
detetive (agradeço ao Aoyama), mas é comum que eu pense apenas na introdução da
história. Nesse estágio, ainda não sei se vai ser um caso ou não. Por exemplo, imagino
o Totonō achando uma pessoa enquanto ela perambula por aí carregando uma mala
grande, ou ele encontrando alguém no meio da chuva que perdeu a memória, ou ele
conversando a noite toda com alguém que ocupa o leito ao lado do seu no
hospital. A partir deste ponto, eu reflito sobre o sentido, sobre o que há por
trás, e vou cavando e investigando aos poucos. Não penso muito em truques.
Não tenho como objetivo apenas a
resolução dos casos, mas acho que o que o protagonista vê, pensa e fala é importante
também, então sincronizar
esses dois aspectos é bastante difícil. Por isso, toda vez é uma tortura.
BASARA |
– BASARA também entra aqui: como se
sente vendo pessoas reais interpretando personagens que você criou? Gostaríamos
de saber suas impressões nessa situação em que algo que estava dentro de você
ganha vida, fala e se move.
Tamura: Antigamente eu com certeza tinha
resistência. Achava ser possível um animê conseguir copiar meu trabalho, mas
impossível para um live action fazer isso. Porém, quando recebi uma proposta
para transformar uma certa obra minha neste formato (no fim das contas acabou
dando em nada), foram-me sugeridos alguns atores e naquele momento eu
inesperadamente me dei conta de que ficaria extremamente feliz.
Após isso, eu fui abençoada com a
oportunidade de montarem uma apresentação teatral de “BASARA” e fiquei chocada
com o quão fielmente foi possível reproduzi-la. Olhava para os personagens em
carne e osso pensando “É ele mesmo? É ele mesmo?” (risos). Naquela época ainda não havia a
palavra 2.5D e eu fiquei completamente imersa na diversão de ver atores reais
interpretando os personagens, digerindo essa felicidade. Por isso, quando agora
decidiram fazer o dorama e o Suda perguntou-me gentilmente se não teria nenhuma
resistência em relação a um live-action, consegui responder-lhe “de forma
alguma”. Não tenho nenhuma. Estava apenas cheia de antecipação. E isso é devido
a ser ele quem está interpretando o protagonista. E, como esperado, ficou
maravilhoso.
O tamanho da resposta ao
dorama
– Furomitsu, Aoto, Garo, Raika... creio
que haja muitos fãs de cada um desses personagens incríveis. Quando você criou
“Não Chame de Mistério”, qual personagem deu-lhe mais trabalho?
Tamura: No momento atual desta obra, ainda não tive muito problema. No caso de “7SEEDS”, eu sofri bastante com todos. Mesmo quando não tinha trabalho ao criá-los, era comum acabar tendo conforme continuava a desenhar a história. Não importa o que fizesse, eles não avançavam e eu ficava perdida sobre como agir. Seja lá como for, se você se afoba querendo que as leitoras gostem de alguém, fica muito óbvio e elas acabam por odiá-lo, caindo em um círculo vicioso. Eu sei disso por experiência pessoal.
– O dorama “Não Chame de Mistério” teve
grande popularidade desde seu primeiro capítulo. Como foi para você ver este movimento
crescer?
Tamura: Como esta história surgiu a
partir de um oneshot que fiz alegremente em meio a uma outra serialização (N.T.: ela fez o oneshot enquanto estava terminando 7SEEDS), foi
uma sensação muito estranha. E desde então essa estranheza permanece. Estou um
pouco anestesiada, perguntando-me o que está acontecendo. Este é o resultado de
as leitoras estarem apresentando e recomendando este meu trabalho
apaixonadamente tanto dentro quanto fora da internet. Muito obrigada. Sinto que
esta obra realmente cresceu por causa do público. E sou grata de coração.
– Poderia dizer-nos quais cenas surpreenderam-na
e quais ficaram com você ao ver o dorama?
Tamura: Como é de se esperar, eu me
diverti horrores vendo atores famosos fazendo participações especiais e entrando
em combates empolgantes com o Totonō. Isso é algo que só o dorama pode
proporcionar. Cenas em que não chorei no mangá acabaram fazendo-me chorar aqui.
O primeiro capítulo, o arco do “anjo das chamas”, o arco da casa de campo...
pensei com amargor que queria assistir sem saber as histórias. É realmente
lamentável que já soubesse o desenvolvimento.
Além disso, as paisagens e os ambientes internos que desenhei casualmente foram transformados em cenários
deslumbrantes e usaram locais iguaizinhos a ponto de me perguntar como eles procuraram.
Assistir a isso também é muito divertido.
O estilo de roupas usado por todos
também ficou ótimo.
Ainda há episódios que
quero ver na tela
– Para quem ficar perdido com o fim
do dorama, o fato de a obra original ainda continuar é uma notícia maravilhosa.
Pessoalmente, tenho vivido apenas para ver o encontro do Totonō com a Raika, e
isso não é algo trivial, mas sim algo que enche o meu peito. Em relação ao que
acontecerá no mangá daqui adiante, há algo que você possa contar-nos sobre o
que quer fazer?
Tamura: Esses 3 meses passaram
voando e eu também vou ficar triste com o fim. Porém, vou continuar
desenhando normalmente o mangá daqui para frente, e a Raika também aparecerá. Hum,
na verdade ainda não há nada decidido para o futuro, e eu ficaria feliz se vocês
lessem a continuação.
Como criar tanto personagens
detetives quanto investigadores policiais é algo que na verdade é difícil de
fazer (na realidade, ambos têm a tendência a tirar um ao outro por estúpido e a
cooperação entre eles é também muitas vezes impossível), eu estava limitando as
aparições dos policiais em relação ao Totonō também (apesar de ele não ser um
detetive). Porém, quando visitei o set de gravações, encontrei-me com todos
os atores que interpretam os investigadores policiais e meu afeto cresceu muito.
Fiquei com vontade de desenhar mais esses personagens...
O arco do Aoto (nota do departamento
editorial: do volume nove ao dez do mangá) nasceu justamente disso e, desse jeito, penso que seria
legal se de vez em quando eu conseguisse desenhar como principais o Ikemoto, a
Furomitsu (e um outro policial que não aparece no dorama). Ah, claro, o Garo e
seus primos também vão aparecer ainda.
– A obra original continua sua
serialização no momento atual, março de 2022, na revista Flowers. Este fato nos
faz criar expectativa em poder encontrar novamente o dorama no futuro. Como
foi a sua experiência com o dorama e quais, se houver, são as suas expectativas
daqui para frente?
Tamura: Eu não sei nada sobre o futuro, mas,
como ainda há alguns episódios que quero ver na tela, sonhar eu até sonho que isso
aconteça. Ficaria feliz se vocês pudessem dar o seu apoio.
Eu realmente acho que este dorama é
a concentração dos esforços de várias pessoas. Todas as vezes que visitei os
sets, senti fortemente os esforços, os entusiasmos, e vi as altas habilidades com
que os grupos de profissionais lidavam com o trabalho. Não há como não ficar
profundamente emocionada. Eles são inspiradores. Divertidos. Incríveis. Todos
eles são demais.
Eles transformaram “Não Chame de
Mistério” em uma obra feliz.
Por favor, experimentem assistir ao último capítulo também.
Conto com vocês também em relação à
obra original daqui para frente.
Muito obrigada.
***
É uma felicidade poder experienciar
a reação química de transformarem com o maior esforço uma obra original que
trazia o melhor entretenimento em um dorama que também faz o mesmo. Vendo a
interpretação dos atores, a começar por Suda Masaki, entende-se o quanto nós empatizamos
com os personagens. Entende-se também a seriedade das pessoas envolvidas com a
produção do dorama. Ler, assistir, assistir, ler. Fazendo isso, talvez seja
possível sentir mais intensamente qual história eles querem contar. Não são poucas
as pessoas que receberam muitas revelações pela obra “Não Chame de Mistério”, a
qual contém muitas ideias.
Formatação/texto:
Shinmachi Mayumi
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