Capa do primeiro volume de "Kaze to Ki no Uta" (Takemiya Keiko) |
Desde que o
Boys Love tailandês ganhou força, em 2014, um grande número de novos (as)
consumidores do gênero surgiu, e tenho reparado que há muita confusão na cabeça
das pessoas sobre o que ele é. Já cheguei a ler comentário no Twitter de gente
que acredita que isto é algo surgido na Tailândia. Para tentar dissipar um
pouco esse engano, peguei um trecho da obra “Boys Love Media in Thailand: Celebrity,
Fans, and Transnational Asian Queer Popular Culture” de Thomas Baudinette no
qual ele explica o surgimento desse fenômeno. Não há o livro em português,
então eu traduzi o trecho:
“No Japão, o BL emergiu
historicamente na década de 1970 a partir de mangás para jovens mulheres cujo
foco estava em relações românticas e sexuais entre rapazes e entre homens. Na
época, esses quadrinhos eram conhecidos como shōnen’ai (o amor de jovens
garotos) e eles se tornaram cada vez mais populares entre (principalmente)
consumidoras heterossexuais. O gênero foi desbravado especificamente por um
grupo de autoras de mangás que incluía Takemiya Keiko, Hagio Moto e Ikeda
Riyoko. Inspiradas pelas ficções românticas e pelos filmes da Europa populares
no período, assim como pela ficção queer da autora Mori Mari e pela revista gay
japonesa “Barazoku”, essas autoras começaram a escrever sobre os amores,
frequentemente frustrados, de garotos em cenários europeus chiques e belos.
Passando a ser conhecidas, com o tempo, como Grupo do Ano 24 por muitas delas terem
nascido no ano 24 da era Showa (1949), essas mulheres tiveram um papel crucial
no desenvolvimento mais amplo da cultura de garotas no pós-guerra japonês. Ao
longo dos anos 1980 e 1990, muitas autoras amadoras e fãs começaram a produzir
suas próprias versões homoeróticas e paródicas de animês e mangás da grande
mídia, as quais eram publicadas por elas mesmas em revistas feitas por fãs
conhecidas como dōjinshi e vendidas em eventos de fãs como o ‘Comic Market’ (‘komiketto’).
Com o tempo, esses trabalhos publicados em revistas feitas por fãs passaram a
ser chamados de yaoi, uma contração humorística da frase ‘yama nashi, ochi
nashi, imi nashi’ (sem clímax, sem resolução, sem significado) e nessa época
yaoi era especificamente entendido como um gênero paródico de obras famosas.
Com a profissionalização do BL através de revistas em quadrinhos dedicadas a
eles nos anos 1990, suas convenções genéricas se cristalizaram em estratégias
representacionais aceitas e tropos narrativos que permanecem centrais até hoje
para a cultura popular queer japonesa. A profissionalização do gênero levou a
uma suposta explosão de popularidade dele, a qual inundou o mercado japonês com
animês, séries televisivas, romances, drama CDs e videogames com temas e
narrativas BLs. A propósito, foi durante a comercialização do gênero que o
termo ‘Boys Love’ passou a ser o preferido para retratar esta cultura de
quadrinhos homoeróticos japoneses. O BL tornou-se um grande negócio em anos
recentes, com o tamanho de seu mercado doméstico estimado em aproximadamente ¥212
bilhões em 2014.”
BAUDINETTE,
Thomas. Boys Love Media in Thailand: Celebrity, Fans, and
Transnational Asian Queer Popular Culture. New York: Bloomsbury Publishing, 2023. 21 p.
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