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terça-feira, 19 de novembro de 2024

O QUE É BOYS LOVE? UMA EXPLICAÇÃO

 

Capa do primeiro volume de "Kaze to Ki no Uta" (Takemiya Keiko)

Desde que o Boys Love tailandês ganhou força, em 2014, um grande número de novos (as) consumidores do gênero surgiu, e tenho reparado que há muita confusão na cabeça das pessoas sobre o que ele é. Já cheguei a ler comentário no Twitter de gente que acredita que isto é algo surgido na Tailândia. Para tentar dissipar um pouco esse engano, peguei um trecho da obra “Boys Love Media in Thailand: Celebrity, Fans, and Transnational Asian Queer Popular Culture” de Thomas Baudinette no qual ele explica o surgimento desse fenômeno. Não há o livro em português, então eu traduzi o trecho:

“No Japão, o BL emergiu historicamente na década de 1970 a partir de mangás para jovens mulheres cujo foco estava em relações românticas e sexuais entre rapazes e entre homens. Na época, esses quadrinhos eram conhecidos como shōnen’ai (o amor de jovens garotos) e eles se tornaram cada vez mais populares entre (principalmente) consumidoras heterossexuais. O gênero foi desbravado especificamente por um grupo de autoras de mangás que incluía Takemiya Keiko, Hagio Moto e Ikeda Riyoko. Inspiradas pelas ficções românticas e pelos filmes da Europa populares no período, assim como pela ficção queer da autora Mori Mari e pela revista gay japonesa “Barazoku”, essas autoras começaram a escrever sobre os amores, frequentemente frustrados, de garotos em cenários europeus chiques e belos. Passando a ser conhecidas, com o tempo, como Grupo do Ano 24 por muitas delas terem nascido no ano 24 da era Showa (1949), essas mulheres tiveram um papel crucial no desenvolvimento mais amplo da cultura de garotas no pós-guerra japonês. Ao longo dos anos 1980 e 1990, muitas autoras amadoras e fãs começaram a produzir suas próprias versões homoeróticas e paródicas de animês e mangás da grande mídia, as quais eram publicadas por elas mesmas em revistas feitas por fãs conhecidas como dōjinshi e vendidas em eventos de fãs como o ‘Comic Market’ (‘komiketto’). Com o tempo, esses trabalhos publicados em revistas feitas por fãs passaram a ser chamados de yaoi, uma contração humorística da frase ‘yama nashi, ochi nashi, imi nashi’ (sem clímax, sem resolução, sem significado) e nessa época yaoi era especificamente entendido como um gênero paródico de obras famosas. Com a profissionalização do BL através de revistas em quadrinhos dedicadas a eles nos anos 1990, suas convenções genéricas se cristalizaram em estratégias representacionais aceitas e tropos narrativos que permanecem centrais até hoje para a cultura popular queer japonesa. A profissionalização do gênero levou a uma suposta explosão de popularidade dele, a qual inundou o mercado japonês com animês, séries televisivas, romances, drama CDs e videogames com temas e narrativas BLs. A propósito, foi durante a comercialização do gênero que o termo ‘Boys Love’ passou a ser o preferido para retratar esta cultura de quadrinhos homoeróticos japoneses. O BL tornou-se um grande negócio em anos recentes, com o tamanho de seu mercado doméstico estimado em aproximadamente ¥212 bilhões em 2014.”

 

BAUDINETTE, Thomas. Boys Love Media in Thailand: Celebrity, Fans, and Transnational Asian Queer Popular Culture. New York: Bloomsbury Publishing, 2023. 21 p.

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