Há mais ou
menos um ano, Shimizu Reiko fez uma exposição em comemoração aos seus 40 anos
de carreira e o Comic Natalie publicou um artigo especial com uma entrevista
com a autora. Eu o li ano passado e enrolei esse tempo todo para traduzir.
Primeiro porque tradução sempre dá trabalho mesmo. Eu traduzo tudo manualmente,
sem tradutor online e muito menos inteligência artificial, e falta-me ânimo
para fazer às vezes (acabo lendo e deixando o resto sempre para depois). E segundo
porque é um artigo enorme, conforme você verão a seguir.
Agora, sinceramente, não sei por
que o Comic Natalie não publica mais esse tipo de coisa. Fizeram um com a Kanno
Aya e a Hagio Moto – tradução feita por mim aqui – e publicaram esse com a Shimizu,
mas não consegui achar outros na época, não. Quem sabe agora, um ano depois,
tenha alguma coisa. Procurarei e, caso encontre, traduzirei aqui. Prometo que
não demorarei mais tanto tempo.
Uma última nota: os nomes estão todos em ordem
japonesa – sobrenome primeiro, seguido de nome próprio. Creio que boa parte do
que traduzi está nesse modelo, e resolvi que farei assim sempre a partir de
agora porque a ordem invertida foi uma imposição americana na ocupação feita
por eles após a Segunda Guerra Mundial. Como eles e o chamado Ocidente (e nós
também, por tabela) respeitam a ordem original quando se trata dos chineses e
coreanos (Xi Jinping, Kim Jong-um etc), não vejo por que deveria fazer
diferente com os japoneses. Algumas revistas acadêmicas americanas têm adotado
essa postura também. Caso queiram mais detalhes sobre isso, recomendo o vídeo
do Ilha Kaijuu. Segue o artigo.
Shimizu Reiko – Exposição
de Arte
(Em comemoração a 40 anos
de trabalho)
Shimizu Reiko, que
completa 40 anos de trabalho artístico, fala sobre os melhores aspectos de sua
primeira exposição
O evento “Shimizu Reiko
– Exposição de Arte”, em comemoração aos 40 anos de carreira da artista, abrirá
a partir de 23 de novembro no Sunshine 60 Observatory Tenbo Park. Desde que
estreou em 1983 com a obra “Sansaro Story”, a mangaká encantou as leitoras com
obras de suspense bem construídos que tiveram por tema ficções científicas,
canibalismo, assassinatos grotescos, dentre outros, dando vida a linhas belas e
fortes. Nesta exposição de arte, além de ilustrações coloridas de obras
representativas como “Kaguya–hime”, “Tsuki no Ko – MOON CHILD” e “Himitsu – TOP
SECRET”, haverá também ilustrações feitas antes de sua estreia como mangaká
colorindo o local.
Para comemorar a
abertura da exposição, o Comic Natalie entrevistou Shimizu. Ela nos expôs suas
diversas memórias destes 40 anos, indo desde sua época de menina em que se
divertia só de ter um papel branco e um lápis, passando pelo período de pré–estreia
como mangaká no qual desenhava suas histórias para enviar às revistas enquanto
trabalhava em uma empresa, até o pesadelo que a afligiu na noite anterior à
divulgação de “Himitsu – TOP SECRET”. Além de apontar os pontos de destaque de
sua exposição, a autora fala sobre o lado oculto de continuar desenhando seus
trabalhos, ainda hoje, de maneira completamente analógica.
Coleta de dados/textos:
Oda Makoto.
“Só de ter papel branco e
lápis, eu já me divertia” – De sua infância até sua estreia
–
Parabéns pelos seus 40 anos como mangaká! Nesta entrevista, gostaria de
explorar as suas origens. Que tipo de criança você foi?
Desde criança, eu gostava da
atividade de desenhar no papel por si mesma. Só de ter um papel branco e um
lápis, eu já me divertia desenhando.
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Ilustração feita por Shimizu Reiko antes de sua estreia |
– Que tipo de mangá você lia nessa
época?
No tempo do ginasial, Fumizuki Kyōko
e Hagio Moto foram minhas duas grandes influências. Porém, como uma amiga muito
próxima era uma grande fã da Hagio, eu disse que a concederia a ela e ficaria
com a Fumizuki (risos).
– Que duas escolhas mais luxuosas
(risos)! Onde, precisamente, você acha que fica o charme das obras da Fumizuki?
Ela é uma excelente desenhista. Como
ela desenhava a vegetação, as flores, a ambientação de maneira muito rica, eu
ficava aguardando todos os meses com bastante expectativa para comprar as
revistas em que suas obras eram publicadas. Eu também gostava muito de Ichijō
Yukari e Ōya Chiki.
– Só mangakás que são excelentes
desenhistas, né?
É verdade. Eu apreciava os enredos
também, mas – se fosse para escolher – diria que era mais frequente que os
desenhos me encantassem. Uma pessoa que não liga muito para desenhos satisfaz–se
com apenas uma leitura geral. Ela não compraria o encadernado, né?
– Naquela época havia também muitas
mangakás que estreavam enquanto ainda eram estudantes.
Naquele período havia uma imagem de
que pessoas de talento como Narita Minako, Kuramochi Fusako etc estreavam todas
enquanto ainda estavam no colegial. No passado, a Ichijō e a Satonaka Michiko
também haviam estreado quando eram colegiais. Por isso, achava que seria ruim
se eu também não estreasse com essa idade e até submeti minhas obras nos
concursos, mas não consegui ganhar os prêmios de estreia.
– Como você passou seu tempo até
que isso acontecesse?
Eu trabalhei no escritório de uma
empresa que manufaturava roupas em Kyushu. Como a filial ficava a cinco minutos
a pé da minha casa, pensei que seria bom. Quando o trabalho acabava, os outros
iam juntos passear por aí, mas eu voltava direto para casa e ficava desenhando as
obras para mandar para editoras. Por isso, eles ficavam curiosos sobre o que eu
estaria fazendo.
– Foi precisamente aí, no meio do
ano de 1982, que você recebeu o prêmio honorário da 9ª edição do concurso “Lala
Manga High School” da Hakusensha por sua obra “Foxy Fox”, não é?
Eu entrei nesta empresa com 18 anos
e parei com 20. Porque se você trabalhasse por um período de 2 anos, receberia uma
indenização ao sair (risos). Depois disso, como ainda não estava decidido
quando seria minha estreia, eu fiquei o tempo todo em casa desenhando. Num
ritmo de um desenho por semana, no estilo de obra estética. Não tinha nenhuma
intenção de publicar em algum lugar, mas era divertido fazê–los.
“Se você desenhar
direito, as pessoas vão entender” – a obra “22XX” que se tornou seu ponto de
virada.
– No ano seguinte, “Sansaro Story”
foi publicado na revista Lala e você conquistou a tão desejada estreia.
Mas, naquela época, eu ainda não
tinha certeza sobre o que queria desenhar. Como eu virei mangaká porque queria
desenhar, era ruim em pensar em histórias. Ficava pensando se não seria melhor
alguém fazer o roteiro para mim.
– Essa situação continuou até
quando?
Até desenhar “22XX” em 1992. Até
ali, a direção que eu queria seguir ainda estava meio vaga e tenho a sensação de
que com ela consegui decidir um pouco meu estilo. Foi a primeira história
sombria desenhada por mim.
– O tema dela é o canibalismo. Por
mais que o nível de tolerância da Lala seja alto, publicar uma obra dessas deve
ter sido uma aventura.
Meu editor era muito compreensivo e
disse para publicarmos como eu havia desenhado. E então a reação das leitoras
também foi muito boa. Essa obra fez–me perceber pela primeira vez que, se eu
desenhasse direito, as pessoas entenderiam.
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Imagem de "22XX" |
– “22XX” é uma obra–prima não
apenas do shoujo mangá, mas também da História da ficção científica japonesa. Ela
aparece bastante como tópico nas redes sociais também.
Eu tenho uma ligação emocional com
essa obra porque foi ela que se tornou meu ponto de virada. Às vezes, fazendo
“egosearch”, ainda encontro pessoas que gostam dessa obra e isso me deixa
feliz. Porém elas erram bastante o título (risos). Escrevem “2200” etc...
– O correto é “22XX (nii-nii-ekkussu-ekkussu)”!
E então, seguindo a trilha deixada por “22XX”, há também “Kaguya-hime” e “Himitsu
– TOP SECRET”.
Eu ficava me perguntando se não
teria problema escrever obras em que aparecem tantos cadáveres dentro do gênero
shoujo mangá. Estava constantemente com medo de que todos fossem rejeitá-las
dizendo que eram macabras e assustadoras. No caso de “Himitsu – TOP SECRET”,
até que a obra fosse anunciada eu gemia dormindo todas as noites. Ficava
pensando dentro dos sonhos que não deveria fazer um mangá tão sério e macabro,
e que era preciso desenhar personagens com maior probabilidade de se tornarem
populares.
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Ilustração colorida de "Himitsu – TOP SECRET" |
– Mas, mesmo quando você desenha
uma cena de assassinato, há nela uma enorme beleza, como se a elegância ali
habitasse. Até “Kaguya-hime” os mangás eram publicados na edição de bolso em
brochura da “Hana to Yume Comics”, mas, com o aumento do formato a partir de
“Himitsu – TOP SECRET”, passou a ser possível apreciar melhor o charme dos seus
desenhos e seus fãs devem ter ficado felizes.
O que eu lembro de “Himitsu – TOP
SECRET” é que, quando estávamos preparando o encadernado do volume um, meu
editor daquela época quis fazer uma edição de luxo ao estilo do “AKIRA” de Ōtomo
Katsuhiro, mas ele tomou uma bronca de seu chefe (risos).
– A série spin-off de “Himitsu –
TOP SECRET” chamada “Himitsu – season 0” finalmente terá sua serialização
reiniciada na edição da Melody que estará à venda em 27 de outubro.
Sim, acho que depois de dois anos e
meio.
– Nesse intervalo da serialização, houve
tanto a pandemia de coronavírus quanto as guerras. Imagino que tenham passado
diversas coisas por sua cabeça. Como foi?
Foi doloroso quando a Rússia
invadiu a Ucrânia. Porque eu já tinha visitado Kiev para coletar dados para “Tsuki
no Ko – MOON CHILD”.
– Foi justamente durante a
serialização?
Creio ter sido bem no meio da
serialização. Havia uma parte da história que eu achava que tinha de ir para
Kiev para entender direito, então eles me permitiram ir.
– A existência de Chernobil
representa uma chave importante para essa história sua. Você chegou a ir perto
do lugar em que ocorreu o acidente nuclear?
Como eu estava acompanhada por
alguém nos estágios iniciais de gravidez, nós não fomos por termos ficado um
pouco receosas. Mas em Kiev e seus arredores eu ouvi histórias das pessoas
locais e coletei dados sobre os grupos de balé de lá. Como quem me acompanhou
tinha conexões com pessoas relacionadas ao isso, tenho boas memórias de visitar
escolas e grupos de balé. Kiev é uma cidade muito bonita.
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Imagem de "Tsuki no Ko – MOON CHILD" |
– “Tsuki no Ko” (A Criança da Lua) é
um exemplo perfeito do fato de que as crianças têm um papel importante nas suas
obras. Em “Himitsu – season 0”, elas são uma chave essencial para a história,
né? Você faz isso intencionalmente?
Como o impacto é maior quando uma
criança é a agressora ou a vítima, creio que acabe recorrendo a esse recurso. Na
história que escrevi na retomada da serialização, eu me baseei na genética do
comportamento, então aparecerá uma criança também.
– O que seria a genética do
comportamento?
Falando de forma que se entenda
facilmente, pesquisa-se em que nível nossa personalidade, nossa inteligência e nosso
comportamento são influenciados por nossos genes. Nos episódios que escrevi até
o volume dez, talvez dê para se dizer também que escrevi variações de exemplos
da genética do comportamento.
“O lado irretornável também
é algo que dá sabor às coisas analógicas” – os melhores aspectos de sua
primeira exposição
– Nós escutamos várias histórias
suas e agora chegou a vez de finalmente ver de perto numerosos desenhos feitos
por você ao longo de 40 anos nesta exposição de arte. A abertura do evento está
finalmente próxima a nós, mas gostaria que nos contasse o que levou você a
planejar fazer isto?
Eu já vinha desenhando “Himitsu –
TOP SECRET” por um longo período de tempo e também tinha vários desenhos
acumulados, então falei para meu editor que queria lançar um “artbook”. Ele
concordou comigo e eu estava na expectativa quando ele me volta e diz que tinham
decidido fazer uma exposição. Eu falei “Ei, a escala aumentou muito!” (Risos)
– É surpreendente que esta seja sua
primeira exposição.
Alguns anos depois de minha
estreia, o pessoal do meu fã clube alugou uma galeria e fez uma em escala
pequena, mas esse evento grande, oficial, é a primeira vez.
– A seleção dos desenhos que serão
exibidos foi feita por você mesma, não é?
Sim. Se tivesse seguido apenas o
meu gosto pessoal, teriam sido escolhidas somente obras parecidas umas com as
outras, então eu propositalmente selecionei de forma a ter variedade. Por
exemplo, na época de “Kaguya-hime”, eu gostava de ornamentos brilhantes. Nesse
período eu gostava de fazer desenhos excessivamente detalhados, então me
dedicava ao máximo em desenhar roupas que pareciam trajes de realeza.
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Ilustração colorida de "Kaguya-hime" |
– Como um grande número de mangakás
passou e fazer suas obras digitalmente, não há mais muitas coisas que possamos
chamar literalmente de desenhos originais. Neste momento, o próprio fato de
conseguirmos fazer uma exposição de originais é por si só valioso. Você continua,
mesmo agora, trabalhando em modo totalmente analógico?
Sim. Há mais ou menos dez anos,
recomendaram-me que ao menos colorisse as obras digitalmente, porque assim
poderia corrigir caso errasse etc e eu cheguei a estudar. Porém, se eu olho a
tela por uma hora inteira já começo a passar mal e não dá para continuar. Eu
não consigo olhar sem cessar para uma tela que emite luz.
– Há alguma dificuldade decorrente
do analógico?
Conforme a digitalização avança, a
demanda por ferramentas analógicas vem diminuindo e está desaparecendo
rapidamente. Eu usava as placas de desenho da marca Crescent usadas pela Narita
Minako porque eles eram muito fáceis de desenhar e limpos, mas ficou difícil
obtê-los tanto pela internet quanto por lojas de materiais artísticos. Agora eu
uso as placas da marca Canson. Mas me incomoda um pouco as irregularidades que granulosamente
surgem parecendo as aberturas de um tatame. Além disso, as retículas usadas em
manuscritos monocromáticos serão descontinuadas rapidamente, então eu me
preocupo. As tintas coloridas da LUMA também sumiram...
– Em meio a isso, o lado da técnica
também sofreu alterações, não é?
Por exemplo, as linhas principais da
capa do volume dez de “Himitsu – season 0” foram feitas a lápis. Desses comuns
como o H e o HB. Como eles dão um efeito final claro e leve, ultimamente só
tenho usado esses. Eu desenho levemente os traços principais com eles e
finalizo com a tinta colorida. Na verdade, como na época de “Tsuki no Ko” eu
também fazia as linhas centrais com lápis coloridos e depois colocava as cores,
pode-se dizer também que retornei novamente a isso.
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Ilustração colorida que se tornou a capa do volume 10 de "Himitsu – season 0" |
– Dependendo do artista, há aqueles
que mudam seu estilo conforme os anos passam, mas no seu caso, embora sua técnica
tenha se alterado, seu traço tem se mantido consistente.
É verdade. Nestes quarenta anos, creio
que ele não se alterou muito. Eu já não consigo desenhar de nenhuma outra
forma.
– Você vai na exposição de outros
mangakás, às vezes?
Esses tempos atrás fui na exposição
de Matsunae Akemi. Eu uso a coloração de suas obras como referência porque elas
são muito bonitas. Eu recortava as páginas da revista Bouquet (Shueisha) e as
conservava em pastas. Além disso, claro, havia uma pessoa extraordinária como
Uchida Yoshimi. Como eu posso dizer? Ela publicava coisas em que cada umas das páginas
parecia uma obra de arte e, por isso, tendo pessoas como ela na minha frente,
eu achava que ainda tinha um longo caminho a percorrer.
– Onde você acha que está a peculiaridade
dos seus desenhos?
Huuum, talvez no fato de que eu
desenhe muitas plantas. Eu gosto de plantas desde sempre. Se eu desenho esse
tipo de coisa, sinto-me estável. E acho que mais do que flores, são as folhas
que causam isso. Como os personagens principais de “Himitsu – TOP SECRET” são
todos homens, as folhas se tornaram mais numerosas do que as flores. Eu gosto
de pintores como Alfons Maria Mucha e Maxfield Parrish e aprecio a forma como
eles desenham as plantas usando-as como ornamento. Talvez eu gaste mais tempo
desenhando-as do que gasto fazendo seres humanos.
– Falando nisso, você também
exibirá desenhos que fez antes de sua estreia, não é?
Sim. As coisas que desenhei no
período entre o meu pedido de demissão da empresa e o meu debute como mangaká
que falei lá no começo. Eu costumava deixá-las guardadas naqueles álbuns de
fotografia antigos. Após minha estreia, quando parecia que não conseguiria
fazer uma coloração dentro do prazo, eu já cheguei a reusar algumas dessas
imagens (risos).
– Há algum outro material raro na
sua exposição?
O baralho completo de tarô que eu
fiz para a Lala.
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Ilustração das cartas de tarô publicadas pela Lala entre março e abril de 1993 |
– Isso é incrível!
No começo eu só havia feito os
arcanos maiores, mas depois desenhei o resto que faltava e comercializei. Acho
que já se vão uns trinta anos disso.
– Por fim, você poderia nos apresentar
quais são, na sua opinião, os pontos que mais valem a pena ser vistos desta
exposição?
Eu mesma, antes de entregá-los ao
meu editor, tirei cópias coloridas dos desenhos de que gosto e os guardei. Nós planejamos
para que esses trabalhos sejam exibidos. Um dos que mais gosto particularmente
é, por exemplo, o desenho com os galhos que virou a capa do volume dez de “Himitsu
– TOP SECRET”.
– O desenho com as linhas
principais feitas a lápis mencionado por você agora há pouco, né?
Isso. A sombra das folhas aparece
na camisa, então eu precisava desenhar, da mesma forma, uma quantidade suficiente
no rosto, porém, se fizesse muito e falhasse, acabaria entrando num ponto de
não-retorno. Por isso lembro de ter colocado essa sombra com medo. Se você
coloca cores muito fortes no rosto, já não dá para voltar atrás. Eu coloquei as
sombras no pescoço num ímpeto só, mas no rosto tive dificuldade.
– Essa intuição é algo que decorre
também do analógico.
É verdade. Nesta situação, se fosse
digital, eu tentaria desenhar primeiro e, mesmo que falhasse, conseguiria
retornar ao ponto anterior, mas no analógico não consigo fazer isso. Porém, é esse
sentimento de irretornabilidade, é nesse aspecto de tudo-ou-nada, que está o
lado bom do analógico.
– Espero que muitas pessoas
consigam apreciar ao máximo o charme dos seus desenhos que existem como coisas
e não como dados. Parece que, como presente para os visitantes, haverá uma
mensagem especial dela, então fiquem na expectativa.
Eu estou com um pouco de
vergonha... (Risos) Mas aguardarei ansiosamente também a abertura da exposição.
Perfil
Shimizu Reiko
Nascida em Tóquio a 26 de março,
criada em Kumamoto. Estreou em 1983 com a obra “Sansaro Story”. Com seu traço
elegante e suas histórias de ficção científica em grande escala que usaram como
tema fábulas e lendas, atraiu muitas leitoras e, em 2002, ganhou o 47º
Shogakukan Manga Award na categoria shoujo por “Kaguya–hime”. Seus outros
trabalhos de destaque incluem “Tsuki no Ko – MOON CHILD”, no qual retrata a lenda
da Pequena Sereia e seu medo de se tornar uma mulher adulta; “Himitsu –
TOP SECRET”, suspense que se passa em um futuro próximo transformado em anime
em 2008 e filme live action em 2016; e a série Jack e Elena, a qual tem por
protagonistas esses personagens humanoides em obras de ficção científica como “Ryū
no Nemuru Hoshi” e “22XX”, dentre outras. Desde 2015, está publicando o spin-off
de “Himitsu – TOP SECRET” chamado “Himitsu – season 0” na revista Melody (Hakusensha).